Com postos de coleta, projeto reciclou mais de 95 mi de bitucas de cigarro

Um projeto tem recolhido bitucas de cigarro no litoral norte de São Paulo e chamado a atenção da população local. Totens com recipientes para o seu descarte foram distribuídos na região, e o trabalho de conscientização ambiental promove ações educativas que explicam aos banhistas e moradores o quanto elas são nocivas à natureza. De acordo com a organização, cada bituca contém mais de sete mil substâncias químicas tóxicas — e apenas duas bitucas em um litro de água equivalem a um litro de esgoto.

Somente na praia de Ubatuba, onde um totem foi instalado em dezembro, mais de 6.100 bitucas deixaram de ser descartadas na areia ou na água no primeiro mês — o que representa 2,5 kg de lixo tóxico recolhidos. Se essa quantidade chegasse ao mar, por exemplo, daria para contaminar 3.088 litros de água.

O trabalho nas praias do litoral norte paulista surgiu da parceira de duas entidades ambientais: Poiato Recicla e Flow Sustentável. A ação conjunta distribuiu mais de 200 totens pela região.

“Além dos pontos de coleta, realizamos ações de conscientização com a população, nas quais explicamos que as bitucas são nocivas ao meio ambiente e mostramos como o descarte consciente possibilita a sua reutilização em outros materiais. Na praia, a gente orienta que as pessoas guardem as bitucas em cinzeiros que disponibilizamos e depois descartem nos totens”, explicou Tatiana Araújo, do Flow Sustentável.

“Percebemos que a ação está dando efeito quando fazemos a coleta. As caixas coletoras estão sempre cheias, indicando que as pessoas estão se sensibilizando e destinando corretamente as bitucas”, completa. O projeto possui mais de seis mil pontos de coleta em 17 estados do país. Segundo Marcos Poiato, da Poiato Recicla, o trabalho foi bem recebido pela população fumante que se preocupa com questões ambientais.

“Uma das nossas ações é um mutirão com uma banda tocando músicas enquanto vamos abordando os fumantes sobre a importância de usar as caixas coletoras. Nós não coletamos bitucas do chão — nossas ações são para sensibilizar o fumante a jogá-las no lugar certo”, explicou Marcos. “Eles ficam felizes porque agora têm como destinar corretamente esse material, com impacto social e ambiental positivo.”

Reciclando as bitucas

As bitucas passam por um processo para retirada das substâncias tóxicas. Marcos esclareceu que elas são enviadas para a usina de reciclagem da Poiato Recicla, em Votorantim. Na usina, recebem tratamento de uma tecnologia que transforma o material tóxico em massa celulósica para fazer papel artesanal.

Até agora, já são mais de 95 milhões de bitucas coletadas e processadas. “Precisamos todos nos responsabilizar pelo encaminhamento correto de todos os resíduos que geramos. É necessário agir para mudar o modelo atual de consumo que só retira recursos da natureza e devolve como lixo. É urgente mudar este modelo”, ressaltou Marcos.

O fotógrafo Renato Lugli Junior é morador de São Sebastião (SP) e aprovou a iniciativa. Segundo ele, muita gente nas praias tem mudado o comportamento após a instalação dos totens. “Achei uma medida bem positiva. Eu sou fumante e sempre joguei minhas bitucas do carro. Mas tenho visto a galera levando até os pontos de coleta. Está sendo uma mudança comportamental bem-vinda. Acho importante esse movimento. A gente tem que fazer algo pelo meio ambiente. Tem que começar por algum lugar”, disse.

Fonte: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2022/03/01/projeto-estimula-populacao-a-descartar-bitucas-de-cigarro-de-forma-correta.htm